sábado, 31 de outubro de 2020

Não é isso

(imagem: daqui)

Lembro da semana passada quando você rasgou meu olho ao perceber que ainda cultivo gostos antiquados para os tempos em que vivemos. Tempos que suas mãos estão construindo. A lâmina perfurou a íris por puro reflexo do corpo ao tentar livrar a cabeça de ser decepada. 

Você lamenta por eu ter ficado de pé, pois tem certeza de que eu aprenderia mais vivendo como você vive. Mas eu rejeitei o mundo perfeito e cheio de possibilidades me oferecido como chantagem. A mim e a todos os meus amigos. Eles se renderam, desistiram para não serem excluídos de suas listas, não serem cortados do seu baile e não receberem nomes que não os de seus nascimentos. Você sabe que eu não me anularia a esse ponto para caber no novo mundo livre que você disse. 

Posso estar vivendo a vida por um olho agora, mas ainda choro a liberdade pelos dois. Você pode ver as lágrimas em cada lado do rosto secando nas bochechas. Em apenas um olhar ainda posso enxergar a melancolia desse mundo cheio de possibilidades, mas que resolveu ser um mundo de cegos com lâminas que ferem e de gente que precisa lutar todos os dias para continuar conseguindo enxergar. 

Você lembra dos tempos passados, dos lugares em que juntos víamos tudo? 


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