terça-feira, 30 de novembro de 2010

De repente, chuva!

(imagem: recebendo chuva homem - kdomeu.blog.terra.com.br)


Desde muito tempo venho tendo uma relação quase que pessoal com a chuva, os dias de chuva. Não sei quando isso começou - o tempo já passou demasiado para ter uma certeza.

O fato é que quando começa a chover o barulho no telhado e o cheiro que sobe da terra causa uma angústia e uma sensação de alívio. É como se estivesse preso e a chuva, de algum modo, quebrasse as correntes. Ou então fizesse o oposto, me fazendo ter a certeza de que nem Bach ou Mozart conseguiriam captar e fazer com que me sinta como me sinto quando ouço as gotas d’água cair, as pessoas correndo, os vidros embaçados e o corpo molhado! Em meu peito há um furacão e só os dias de chuva o acalmam – ou centuplicam o estrago. Ainda não existe meio-termo essas horas, ou é o céu ou o inferno. Porém a chuva dá serenidade aos efeitos de ambos.
Você já percebeu como o mundo se cala quando começa a chover? E se não ligar para os sapatos molhados e as pessoas apressadas conseguirá ver você em meio, em meio ao mundo. Mas isso ainda não é solidão, pois esse não é o caminho para ela. A solidão é mais egoísta, os dias de chuva não, são para todos inclusive os sozinhos. É que ambos te pegam desprevenido, mas creio que o guarda-chuva para a solidão seja um coração transbordante. Quando o céu te pega de surpresa só resta aceitar.
Um dia aconteceu... meu primeiro encontro consciente com ela. Ao voltar para casa entrei na rua em que moro e começou a chover, a chuva veio lenta na esquina oposta e parei no meio da rua procurando um abrigo, uma rota de fuga para o inevitável. Calculei a distância para a porta e corri, ela, como se estivesse viva acelerou incrivelmente e me pegou no terceiro ou quarto passo, molhando a mim, a outra metade da rua e o restante do bairro, foi como um abraço.
Ao chegar perto de casa já não corria, abri o portão e olhei para o céu para contemplar aquele espetáculo de Deus acontecendo - não do outro lado do mundo, nem num programa ou telejornal, mas ali - em minha frente, na cidade e dentro de mim.
Então hoje é o último dia de novembro, o calor arrebata saudades dos tempos frios e até os últimos acontecimentos nas favelas do Rio deixam uma sensação de tranqüilidade com relação ao futuro. Mesmo sabendo que aqui a paz não é para sempre, sei que as guerras também não são. Assim como a chuva cai depois de um longo período de seca espero que a paz possa reinar. E que venha para sempre.