domingo, 21 de novembro de 2021

Motivo aleatório

(imagem: daqui)

O último raio de sol que alaranjava o céu inteiro do fim da tarde, o castanho do seus olhos e o amarelo de seus cabelos que ficaram da mesma cor do seu olhar depois que você cresceu. O tom, o cheiro e a forma de nossas vidas naquela escola e de cada um de nós depois de tudo. As brincadeiras, o beijo, o riso. Os desencontros e o choro. Todas essas coisas voltavam à memória pelo motivo mais banal sem dar explicação. 

Relembrar que vivemos tudo isso sem nenhuma experiência, como quem dá um triplo mortal sem uma rede para amortecer as quedas, me deixava surpreso em como a vida permite sentimentos tão gigantescos em corações tão pequeninos.
Não entendíamos o sentido, nem aos sete e nem depois dos quatorze. E não havia um ser ao redor que desse bola para o que dizíamos. O que veio depois disso foi o avassalador desejo de reviver o que foi bonito, pela pureza e verdade de que só quem não sabe que pode quebrar o pescoço pela altura que pula consegue realizar. 

Havia um tempo em que qualquer motivo aleatório trazia de volta uns braços ao redor, o sorriso e o beijo. Hoje eu me peguei pensando nisso e em como a vida usa nossos cândidos saltos despreocupados, para transformar nas redes a tecer a segurança do amanhã que nem imaginávamos existir em separado. 
Todo amor que vivemos, e que um dia nem teve tempo de despedida, serviu para nos provar que o mundo é belo e vale a pena toda vez que a realidade viesse nos bater o contrário. 

Nos achamos e desencontramos para que pudéssemos entender o que não deixar ir quando a vida trouxesse o que completasse nossa felicidade. Foi esse o motivo de termos nos ligado. É esse o motivo de sorrimos hoje em separado, não era para ser pra sempre. Estamos gratos pelo que nos foi trazido agora como se fosse a primeira vez. Essa foi a maneira mais bela que a vida arrumou para nos fazer aprender.