quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Todo mundo foi criança

(Novo Tom - Pode cair o mundo estou em paz)

Eu fico pensando: o que realmente importa? O que importa não é nada, nada do que agente acha que importa, o essencial é algo muito simples, algo que o meio - toda a correnteza em que vivemos – às vezes, não nos deixa perceber. Mas eu sei, eu sei, pois todo mundo foi criança um dia, eu lembro. Nossos amigos, hoje alguns se esquecem e deixam-se levar pela corrente que começa tão suave antes das fortes correntezas.

Todo mundo tem um preço, e isso é tão certo quanto tudo o que é concreto na vida. Seja no gueto ou num lar abastado, esse preço já foi pago, e custou caríssimo, custou a mais importante de todas as vidas.

Quem é que se interessa em trazer o mal? Em espalhar toda a dor? Não importa (na verdade importa, mas isso não muda muita coisa).
O fato é que tudo o que fazemos uns com os outros estamos também fazendo para com um alguém que vale infinitamente mais que toda a riqueza que se pode imaginar.
E nossa responsabilidade vai desde um sorriso até o máximo que pudermos fazer de bem para essa pessoa. Não tem nada a ver com onde o outro esteja, se do seu lado ou do outro lado do mundo (digo isso porque você vale muito pra não ficar sabendo do valor que um ser humano tem). E esse conhecimento é a essência da máxima: “somos todos iguais”.

Da próxima vez que ver alguém num sinal, feliz, caminhando ao seu lado, ou se explodindo em meio a uma multidão num país do velho continente, saiba que ele ou ela é responsabilidade sua (e minha e nossa). E não é só porque agente cresce e ganha pêlos no rosto e dinheiro no bolso que pode se sentir superior. É responsabilidade nossa!

Esse blog trata sobre pequenas partes da vida, mas esse post fala da vida por inteiro, esse post é sobre o sacrifício de Jesus, e sobre como todos nós estamos inclusos nisso.
Talvez estejamos adultos demais em nossos dias, o mundo pesa muito dessa forma.
Deve ter sido por isso que Ele falou que o reino dos céus é como uma criança.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Até o céu

(Foto: Helder Mendes)


Quando você me vir chegar do trabalho assim (triste)
Pode ter certeza de que vou pular fora e arrumar outra coisa pra fazer
Não quero só gozar mãe, quero uma mulher para poder amá-la
Há varias maneiras de se ganhar dinheiro, até mais fáceis que esta
Mas eu não quero só dinheiro mãe
Quero também a felicidade
P’ro mundo não é comum
(Nem é questão de ser ou ser comum)
Meu sonho de consumo é a vida

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Superstar

(imagem: Karina Bertoncini www.olhares.com)

Como posso começar... Bem, o que quero dizer foge completamente aos princípios desse blog, que foi criado para falar sobre sentidos comuns ou percepções da vida urbana, mas – pra citar Drummond - Isso estava inundando minha vida inteira. E por hoje ter me sentido livre de tantos anos... (Talvez o que queira dizer seja “indizível”) Mas preciso dizer, então lá vai:

Os meus amigos e amigas e amores de inicio de adolescência, nós nos afastamos um pouco pelo rumo que a vida tomou.
Nos reunimos essa semana (todos juntos como nos velhos tempos!) como nos velhos tempos... Pense como o coração fica parecendo bateria de escola de samba essas horas! E era tudo outra vez: as bebidas, as musicas, as histórias. Se bem que eu já tinha parado com um monte de coisas.

Foi ai que aconteceu - como um Déjà vu às avessas. O tempo voltou e todo mundo tinha 16, 17 anos novamente. Havia uma chuva começando lá fora, fechamos as janelas e tocamos as musicas que pairavam na mente noite a dentro, por horas. Até que cada um foi pegando seu par (como naqueles tempos) e ela [vou chamar de X] veio em minha direção apenas com os olhos. E os olhos dela se perguntavam a que horas eu iria começar a implorar, antes ou depois de eu encher a cara? Mas eu já havia parado com uma porção de coisas. E a chuva batia no teto das casas como uma canção triste e era triste aquele momento. Ela, mais uma vez, fez o favor de deixar-me sentir o seu perfume dizendo que eu era a pessoa mais importante – e dizia isso como quando alguém sabe que possui algo garantido, e então deixa em standby indo viver sua vida, pois sabe que num estalar de dedos terá aos seus pés o que nunca é de ninguém para sempre.

Nesse momento sai em direção à porta bem devagar a ponto de me assustar. Não tinha vindo aqui pra isso, eu queria me divertir entre amigos. Aonde eu iria nessa chuva? – me perguntavam. Só consegui fechar a porta atrás de mim porque as palavras sempre falham na hora errada, e nem adianta ter 20 anos de escola – elas simplesmente falham. Fui caminhando debaixo de chuva seguindo a bússola que há dentro de cada um de nós. Era interessante ver pequenos rios se formarem nas ruas, o vento uivar e toda aquela água cair. A cidade fica vazia quando chove de madrugada (eu já tinha esquecido) é assim na província onde vivo.

Mas o que não me fez cair de joelhos e dizer sim ao ouvir o que mais se espera durante tantos anos da pessoa que foi o motivo de vida? Não, não foi o fato de ter ficado uma eternidade em standby, mas o fato de haver, do outro lado da cidade uma guria que eu nem sabia que existia, e que me faz um bem danado, e que há algum tempo atrás nem tinha rosto – agora tem.

“Ei, otário!” – eu ouvi – eram três mendigos embaixo de uma marquise. “Tá tomando banho! Que otário!” – um gritou – será que ele viu o que aconteceu? Que eu não agi como homem ao tirar X dos meus braços – não, ele dizia aquilo pelo fato de eu estar na chuva, mas de certa forma ele também estava. “Ta tomando um banho, otário!” – não tive duvidas depois disso: aquele mendigo sabia de minha vida toda. Quatro anos tomando banho. Porém a chuva dessa madrugada na verdade estava me enxugando e me aquecendo. Guardei o desaforo para levar pra casa, iria enterrar na vala de desaforos que eu levava pra casa.

Continuava a caminhar em direção ao rosto que estava em meu coração agora, quando percebi ser quase duas da manhã. Parei no primeiro abrigo que encontrei e fiz uma ligação, pra falar a verdade não tinha o que dizer e falei qualquer coisa. Antes de perguntar se eu estava bem ela perguntou se eu sabia que horas eram. Disse que não. Ela falou: “Meu filho...” – disse que sabia, é, sabia. Tentava falar coisas que não as frases monossilábicas que saiam, ela interrompeu: “Ei!” (silêncio...). Era madrugada e o tempo já corria normalmente no presente, pois a pessoa que eu sabia que existia e que me faz um bem danado era outra que não a X, era quem estava do outro lado da linha com voz de sono: “amo você!”. E foi ai, então, que percebi que a vida da gente é de uma grandeza imensa, quando damos valor a ela.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O bem e o mal

Imagina se esses dois ao invés de perderem tempo com guerras usassem suas vidas (e a de milhões) desse jeito!



Não é preciso o mal para o bem se manifestar. Isso é apenas um dos conformismos que aprendemos ao longo da vida. Não sou tão burro a ponto de negar a existência dos dois lados, mas onde quero chegar é: o bem pode existir apenas com a consciência do mal, e não com a realização deste. É uma opção, a escolha de um lado, mesmo que o outro lado também o atraia. E nem é ingenuidade, é sabedoria mesmo, porque nós somos sábios apenas em dois períodos de nossas vidas: infância (digo por experiência própria), e velhice, quando voltamos a ser crianças (essa é uma experiência alheia ainda), pois os adultos são os seres mais confusos que esse mundo contém.


E eu tinha acabado de chegar do futebol, quando fui tomar banho e o Yin e Yang ficou pairando sobre minha cabeça, pedindo para que o aceitasse, dizendo que é preciso a crueldade para completar o bem. Então a criança que havia em mim como um desses garotos de beira-de-estrada - falou-me: “Toda a sua confusão, é só conformismo”. “O bem e o mal não são irmãos siameses – sequer pertencem a mesma família.”
“É apenas uma questão de escolha.”
Escolha.