quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Como sair do labirinto (Texto encontrado!)

(Imagem: daqui)

Decidimos por uma tragédia e depois por um erro. O melhor dos erros, no caso. Não trataremos disso agora, erros são erros, mesmo que cada um ame os seus.  

Mas eu não vim aqui para ficar, por isso a pressa. Daqui do fim do mundo, tudo é espantosamente fugaz. veja as pessoas que são uma revolução, elas buscam pares que são seus opostos e assim a dança nunca tem fim. Essa mesma dança me deixou tonto por muitos anos. Eu sei o que acontece no olho do furacão. O ódio cega e tudo  vira o nome que você escolheu dar - Ladeira abaixo, beco sem saída.

Os filhos dos homens não tem desculpas para serem reféns, nem para amar os dois lados do ódio. Não precisamos sangrar os semelhantes acusando quem xingou o palavrão mais feio, quem atirou a pedra mais longe, quem mentiu primeiro. As pessoas que ainda estão nessa dança só pensam que vieram aqui para ficar por não darem um passo para fora e respirar. 
Cada lado edifica um degrau escolhendo a parte do corpo de alguém que precisará deixar de existir para o alicerce estar fixo. Quanto tempo corpos e regras duram num mundo que fica sentado na porta de casa esperando todos nós passarmos? 

Eu não vim aqui para ficar. Eu não vou levar o seu sangue! Nesse exato momento luto para não revidar, mas você dança de uma forma tão bela que atrai o meu oposto e eu fico. Por você eu fico. Eu quero te convencer e você a mim. Nós nos amamos ao mesmo tempo em que queremos um ao outro mortos, pois a música nunca para de tocar. Alimentamos essa dança, pois achamos que vamos estar aqui amanhã ou depois de amanhã, mas não fomos feitos para ficar, não do modo que estamos. Os construtores e desconstrutores sabem disso. Todos eles.

O olho do furacão é perigoso para eles, pois denuncia uma paz maior fora desse caos, mas nem precisaremos passar pelo caos de novo para alcança-la. Existem outras danças, outros ares e outros sons. O redemoinho não é o melhor caminho. Não vamos entrar por ele. Estive à beira da morte e estou aqui, no contratempo, para te contar. Estamos construindo compassos para prisões dos que virão depois de nós, sejam dos que dançam no tempo ou dos que preferem não.
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Precisamos estar ao lado dos que param. Ao lado dos que foram atacados por ambos os lados e não acharam abrigo em lugar algum. Apenas os que entram pelas janelas são ladrões. Apenas os que entram por elas! Os que saem pulando através delas é que herdarão a terra. Não há portas de saída por aqui. Só enxergamos isso quando paramos a dança. Quando atraímos a guerra não alimentando ela. Mas ai já não importará o que fazem a nós. Nesse momento é que percebemos que não somos dos que vieram aqui para ficar. 

Não construiremos prisões para os que vierem depois de nós de qualquer um dos lados. Os compassos vazios serão as janelas que deixaremos para eles na canção, sem sangue, ódio ou rancor. Um caminho para a porta fora daqui que só existe no silêncio. Uma porta de onde dá para ouvir uma voz encorajadora suave a falar: "O que fazes aqui?" E nos libertar.