quarta-feira, 25 de março de 2020

"To Sam"

(Foto de Snapwire no Pexels)

Você vai mesmo ficar ai parado e olhando? Você sabe que uma quarentena não é o objetivo final do que querem fazer com a sua vida. Volte para os caminhos antigos! Os caminhos que fizeram o mundo todo te admirar e admirar Aquele que te levantou da perseguição. Todos ao redor respiraram liberdade enquanto você se manteve firme, até aqueles que moravam nas terras da escuridão, quando sabiam que em algum lugar você estava resistindo sem olhar para os lados.

Pare de amar a isca que te deram para se envenenar com o que eles amam. Um embate frontal te deixaria alerta, mas o que estão fazendo agora não é tão sutil quanto todos querem que seja. O único sentido para que você esteja inerte é que passou a amar a escuridão que nos varrerá do mudo. Não tenha vergonha de bandeiras e canções. Quando você amava essas coisas, essas trevas se mantinham tão distantes. Ela está com os pés no centro da sala agora, na casa em que só você tem as chaves.

Se esperar mais, o único meio de se livrar desse mal é lutando de volta como um tirano e dando as mãos ao que só te trará destruição e vergonha. Os caminhos antigos ainda estão ao seu alcance, mesmo que quase ninguém mais queira andar por eles. Não deixe a poeira da estrada te atrapalhar. Toda vez que o vento sopra descortina a beleza que foi deixada como guia sob os nossos pés. Não enxergaremos isso daqui. Não amando o que nos deram para nos destruir por dentro.

Esqueça o aparato tecnológico, as armas, e a busca por querer ser o ouro, a prata, o ferro e o barro. Você só precisa de uma pedra para essa batalha e ela sempre esteve ai, mesmo antes de você chegar. Todo esse lugar foi construído ao redor dela, inclusive. Deixe o vento tirar o pó dos caminhos antigos para você passar por eles. Não admire nem tema o tamanho do mal que se ergue sobre você. Se nunca esquecer que pedras também derrubam gigantes, tudo terminará bem.


segunda-feira, 2 de março de 2020

O novo em você

(Imagem: daqui)

"Esse lugar não traz nada de novo!" É a sua ladainha por quase todo o caminho, em uma ânsia pela contemplação de acontecimentos alheios às nossas rotinas, ou simplesmente por diversão. Esse anseio por ir embora de determinado lugar num mundo tão pequeno, é a prova de que ainda não percebeu sua falta de maturidade e do contemplar verdadeiro.

Aquelas senhoras de que ouvi você reclamar, "sentadas nos bancos esperando o tempo acabar", tão serenas e inacessíveis para olhares à procura do que se convencionou chamar novo e belo, são geralmente alvos a se evitar em praticamente tudo, exceto na longevidade. Mas um dia todas elas foram jovens como nós, a procura de algo novo para gastar a juventude e, não sei se no tempo delas era assim, mas eu posso apostar que elas fabricaram suas próprias felicidades em meio a rotina da vida humana. A vida sempre dá um jeito.

É tão decadente esperar o domingão ou um canal qualquer te dizer, via fibra ótica e wi-fi, o que se deve fazer com nossas próprias mãos quando não estamos edificando o universo ao redor, que preferi o silêncio por enquanto. Os tesouros sempre estão no chão a exatamente dois palmos à frente do umbigo de cada um de nós. É um exercício desafiador achar algo que não está tão alto e também nem tão abaixo, não é? Soa como mediocridade.

Se você aprender a embelezar o que o tempo está fazendo com seu rosto, não sentirá o desespero dos que fazem da busca apenas motivo quando for a nossa geração sentada ali no lugar daquelas quatro. Os tesouros estão enterrados justamente para gastarmos a suavidade de nossas mãos. Dar o nome de juventude a essas duas partes do corpo foi o que atrapalhou nosso processo de enriquecimento. O espirito também é a melhor maquiagem já inventada.

O meu joelho já não é mais o mesmo e meus olhos veem apenas borrões se os óculos forem tirados, percebe? O grande segredo dos grandes tesouros está em manter os umbigos sujos, de modo que possamos percebe-los apenas no momento que for a hora de lava-los. E isso só é possível se nós usarmos as mãos para cavar o chão sob os nossos pés. Tudo é seu, não duvide. É isso que traz beleza à velhice, não depender das ondas viajando acima de nós, querendo nos convencer que as quatro sentadas na praça não são o novo a se buscar.

Muitos perceberam seus tesouros há tempos, de modo que nostalgia vira um lugar para apenas sentir, como quando tomamos um copo d'água, e não um caminho para se viver. As velhas sentadas na praça na verdade nunca envelhecerão, pois a juventude de cada uma foi gasta no chão que sustenta nossos pés e destinos. Mesmo quando tudo já tiver ido embora, como as nuvens no céu que sempre passarão.

Te escrevi tudo isso para explicar o motivo de meus olhos estarem tão marejados ontem de tarde observado senhoras, enquanto você sonhava com o distante. Ainda não temos idade, talvez, para contemplar o novo em nós mesmos, mas podemos escolher cavar ou ser nuvem que chora quando a juventude for embora, torcendo para que estejamos vivos nas conversas de jovens senhoras que nunca compraram os tesouros que os loucos vendiam, porque sabiam o que cada um possui debaixo de seus pés.