quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Viu?

(Imagem: daqui)

Hoje o dia estava jovial como uma canção dos Carpenters.
Filtro solar e lembranças.
O ar despreocupado no trabalho fez parecer que era feriado pelas ruas.
E as pessoas são tão lindas quando não estão pensando nisto.
Deus salve o ocidente!

domingo, 8 de dezembro de 2019

De dentro


(Imagem: daqui)

Você é uma contrarrevolução silenciosa.
Cultive isso e sorria!
Mantenha-se afastada do ódio e preserve seu espirito.
Não deixe que contaminem a arma poderosa que é o seu coração.

Atire nos que estão olhando para longe da multidão
Procurando encontrar algum sentido fora da massa ideologizada
Como você fez comigo.
Sem me fazer ter que odiar outra alma.

Não deixe que monopolizem a arma poderosa que é o seu coração
Sob o pretexto de distribuir felicidade para os que amam prisões
Assim será tão fácil perceber como cada ser é mais poderoso
Quando entende que não precisa ter que odiar um ao outro para isso.

Você é a prova viva de que a humanidade pode se reerguer
Não num novo reino, mas em um já antigo
Que talvez nem nossos avós possam contar quando surgiu
Mas que está na memória de todos, inconsciente, aquecido.

Você é a prova viva de que a humanidade pode ficar de pé
Ao reconstruir seus alicerces a partir de reais ombros amigos.
Que não jogam uns contra os outros em palavras de sentido não permanente.
Como você fez comigo ao me despertar saudades
Deste novo lar,  em um reino já antigo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Cúmplices como crianças

(Imagem: Foto de Ana Francisconi no Pexels)

Se não for pedir demais, nunca me deixe. Eu perdi umas coisas e não queria que você também me tirasse de seu peito. Se não for incomodar, eu vou escancarar as portas e janelas. Deixe que nos vejam chorar, nós podemos fazer melhor que isso. Nós podemos sorrir escondidos e ninguém tentará roubar o que não consegue ver. Sinta o vento em seu rosto nesta noite linda, isso tempera nossas almas e dá gosto às lágrimas. Hoje eu não quero que ninguém me veja sorrir.

Vamos fazer isso às escondidas como quem pratica um crime. Se não for pedir demais, vamos fazer de nossa felicidade algo clandestino, acho que atraímos a guerra sorrindo. Não, não é covardia, só não vamos deixar que pensem que não fomos atingidos. Eu quero proteger o seu sorriso. Por favor, também seja meu escudo, se não for pedir demais. Deixe que vençam, deixe que cultivem suas lágrimas enquanto somos felizes às escondidas, me deixe ser seu cúmplice nisso!

Hoje o dia foi feriado e eu vaguei pela cidade. Ela era tão seca, mas haviam rostos em todos os locais. Uma das vantagens de ninguém te ver é chegar perto de todas as expressões e continuar a amar os seus donos depois da partida. Você ainda me vê? Ainda lembra? Se não for pedir demais, nunca me deixe te esquecer. Eu sou o garoto que não merece as coisas. E você pode bater no portão quantas vezes quiser.

Eu ficava nos fundos da casa para facilitar qualquer fuga. Que atitude impensável no mundo de vizinhos com cercas elétricas de hoje! Agora é o céu atrás de muros e portões, mas a cidade aqui é mais acolhedora. O espirito se expande e você é parte de tudo. Não precisamos temer por sermos felizes. Podemos sorrir juntos aqui e agora, eu serei o seu cúmplice. Eu sou bom nessas coisas de nunca entregar ninguém. Já peguei uns anos e o coração quebrado por isso. Prisão de verdade é a vida fora dos muros na solidão. Por favor, nunca deixe isso acontecer com a sua alma!

Só perdemos a guerra. Acabou. Não é pedir demais deixar que os vencedores festejem com os despojos se ainda temos um ao outro. Vamos proteger isso escancarando as lágrimas e sorrindo às escondidas. Deixe que pensem que pegaram tudo o que existia de valor, eu ainda tenho o seu sorriso e isso basta! Não peço nada além.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Às brechas do mundo também!

(Imagem daqui)

Ela achava tudo o que era antirrevolucionário lindo. Quando andávamos juntos destruíamos coisas enquanto reparávamos as brechas nas paredes de casa, cada um à sua maneira. Não percebi como se deu o momento de sua guinada, mas posso ter quase certeza de que foi reparando as paredes de casa.

E eu com os meus tênis vermelhos que nunca usei, olhava para sua pele com olhos tão estranhos nos tempos em que fazíamos moradas nas desconstruções... nos tempos em que ainda não havia chegado o momento que estariam incentivando a classificar parentes e amigos por suas opiniões e gostos pessoais, nem lançando seus rostos na lama ou contra salivas. Mas ela pedia para que prestasse mais atenção aos alicerces enquanto apontava para o céu.
Ela sempre estava olhando para o céu.

Eu só achava que tudo poderia ser de todo jeito e quem dizia que não, que fosse ignorado. "Ninguém, com outras possibilidades, mora numa demolição por muito tempo. Se você só estiver aqui por pura diversão poderá não perceber quando a maré virar sobre sua cabeça. Os construtores de demolição sempre revertem a maré por cima de quem aceitou os cacos como abrigo."
Ela sempre tinha os dois pés firmes no chão.

Toda maneira de não ver é apenas um modo bonito de fracasso, ainda que a lua brilhe sobre nossas cabeças. "Quando os entulhos subirem até o horizonte, eles varrerão tudo e farão outros alicerces e outras coisas sólidas, mas serão apenas miseráveis alicerces para miseráveis coisas sólidas."

Então todas essas bandeiras permaneceriam como lembrança enquanto as mãos que as empunharam estariam sob um oceano de sangue num mar de esquecimento feito para que miseráveis alicerces pudessem surgir de nossas miseráveis ideias compradas?

O que veio foi apenas um olhar como resposta. Mas eu ainda estava acostumado demais acreditando que tudo poderia vir do nada e não notei como amava aquela destruição apenas por nunca ter olhado para o céu e percebido suas raízes.
Foi um caminho sem volta já desde o primeiro momento, quando encarei o seu sorriso tão antirrevolucionário e sua paz ao ser cuspida por multidões desconstruídas que vagavam sobre alicerces de futuros muros.

É uma sensação tão boa pegar de volta os próprios pedaços jogados no chão de entulhos que agora entendo como todo o sacrifício para ver outros despertarem faz te sentir que vale a pena. Ela sabia!
Era assim, sorrindo, que ela reconstruía pessoas enquanto reparava as brechas e os alicerces do mundo!




quarta-feira, 1 de maio de 2019

Voe, molhe-se, chute!

(Imagem: Daqui

No meio do caminho tinha uma pedra
E também tinha o céu e o mar no meio do caminho


terça-feira, 23 de abril de 2019

No silêncio

(Imagem: Daqui)

Mas como não?! Me recuso a ser chamado de covarde, sim! Pare de perguntar se agora a vida é mais bela vendo os outros serem bucha de canhão enquanto trilho outros caminhos. Você fala em arrependimento, mas já reparou quem é caçado como um beligerante quando trilha os rumos interditos de uma insurreição?

Quando abrimos nossa boca para que alguém se desvie de todo o sangue e ossos em sua senda, logo tratam de colocar nosso DNA nos vestígios de pólvora que já estavam ali antes do mais antigo de nosso pessoal nascer. É como pus em unha encravada. E eu não vou chamar todo esse ódio que separa e assassina, enquanto corações trocam presentes e fazem um carnaval, de outro nome só porque ficou convencionado que chamaríamos isso de amor!

Solta a minha mão! Já não está na hora das mulheres e crianças aprenderem a nadar e matar os tubarões eles mesmos? Olhe como eles são reunidos apenas para virarem lenha para o fogo, e todos que dizem os proteger não conseguem esconder seus sorrisos quando os gritos soam desesperados e as labaredas queimam implacáveis.

Vai fazer o quê, me prender por indiferença? Olhe essas marcas em minhas costas e aquela ali tão profunda que deixou exposto por anos essa coisa que ainda insiste em bater imbele enquanto muitos trocam amor por ódio e nem sentem a diferença. Chame isso de indiferença em minha cara! O capitão que é venerado vendeu sua alma e abandonou o navio assim que ele zarpou e hoje banca o grande líder enquanto você inventa desculpas para não ver.

Preferi ensinar os que deveriam pular primeiro a sair por ultimo, a viver sem salva vidas e a não se desesperar quando virem o casco da embarcação furado. Em breve a água estará de novo pelo pescoço e o fogo que os espanta já não porá medo em nenhum de nós!

quinta-feira, 28 de março de 2019

O alicerce de toda a vizinhança



Essa noite me flagrei pensando em meu bairro de infância, em como seria bom se estivesse vivendo nele. Como se o calor do sol na pele e a grama verde depois da chuva ainda estivessem esperando por mim igual aqueles dias.


Tão tarde para vias hoje perigosas... voltar para todos os amigos e vizinhos e mergulhar pelas ruas através do Google Street View... ainda não era muito tarde pra sair dessa maneira atrás de lambanças, e de noite eu só pensava na minha rua e na casa que hoje não existe mais tal como era no tempo em que encontrávamos um com o outro ao final de curtos períodos de espera. Já reparou como o último adeus nem sempre é dado por nem sempre sabermos que aquela é a última vez?

Pelas ruas ensolaradas percorri o caminho que fazia para as três escolas em que estudei e para lugares que ainda conhecia como a palma da minha mão. Lembrando risos, rostos e pessoas por inteiro, senti ciumes e raiva por certas mudanças que apagaram da tela o que ainda está concreto dentro de mim, até que veio o aterrador questionamento de quantos dos que estão em meu coração ainda estariam lá. Pensar nisso fez o colorido desbotar por um instante e tornou aquele bairro um bairro fantasma, apenas com concreto e asfalto, sem o ar e o sangue que dão vida. Fui na casa de todos e fiquei perturbado com tantas mudanças, com tantas fachadas e portões cerrados. Não haviam mais portas e calçadas de grama até as salas, tudo me deixava na rua, como um estranho, um soldado que volta depois de anos à pátria e é apenas mais um.

Existem coisas que não cabem no coração, e precisam ser expressas ou vividas, ou vividas novamente. Por ser impossível se viver a imensidão por completo outra vez, me agarrei na possibilidade de manter na memória o que era, mas cada vez que percorria as ruas, tudo ia embora da minha mente, os nomes, os cheiros, as dores, e depois voltavam num turbilhão debaixo de um céu estático em uma página de internet.

Eu também me sinto em casa bem aqui, do outro lado da tela, mas não sei se reclamaria se nunca tivesse saído de lá. Então percebi que nossas raízes nunca saem de nós. É assim que os lugares que nos pertencem demonstram amor, através delas. As lembranças se tornam coisa sólida, motivo e impulso. É tudo troca. Por ter raízes num pequeno lugar, por ter amado e vivido em um pequeno lugar, posso sentir tudo de novo onde quer que eu esteja e isso é uma benção!

Dentro de nós reside a criança que éramos brincando na rua num dia qualquer, dentro de cada um de nós há um bairro de infância que nos tornou mais humanos dizendo que todo o amor e inocência podem ser vividos em outros lugares e tempos. Quem ainda lembra nunca foi embora de verdade. Basta abrir o coração, fechar os olhos e enxergar. Não existe adeus definitivo para as coisas guardadas no espirito.