quarta-feira, 30 de julho de 2008

Do que tenho certeza

Aracaju: Praia 13 de julho (imagem:http://www.indectelecom.org.br/ )
Um... Dois... Três... Quatro. (na rua) Carros passando sobre o asfalto que a chuva acabou de molhar e pássaros cantam.
(dentro de casa) O indefinido que a chuva trouxe com ela rondando a casa, a TV ligada nas noticias do esporte.
Antes batia uma coisa em meu peito e nunca havia nada, agora há e não é a mesma coisa que sentia quando achava que era. Aquilo era outra coisa. E não transformou-se no que se deu inicio agora, pois o que se inicia nesse momento não pode regressar até se transformar em algo baixo. Isso é bom porque não há riscos de voltar ao modo que era. O que sinto agora é uma coisa diferente do que já senti um dia.
- E você pode estar perguntando: Do que é que ele está falando? -também me perguntava isso antes de ter a certeza.
Dá para perceber, é algo se move em algum lugar no universo - talvez seja isso que mova o universo. E quando a noite vai alta ou o dia sopra seus ventos encanados entre edifícios esse indefinido ressoa em todas as pessoas, é que, às vezes, não percebemos. Mas hoje percebi o que já estava ai desde épocas remotas. E depois de olhar por tanto tempo esqueci como era a visão que eu tinha antes. Se quiser chame de amor então. É que prefiro a definição da personagem Tereza no filme Sonho de Valsa, ela diz: É “o amor que eu tenho pelo meu amor que ainda não tenho”.
Porém, o simples fato de senti-lo é prova suficiente de que existe.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Uma semana à luz da familia e amigos

( Foto: Jose - http://www.flickr.com/photos/raveneye)
Andava pela casa em direção a cozinha quando percebi meu quarto mais claro que o de costume. O motivo era que os raios de sol entravam pela janela e refletiam na capa de um livro embranquecendo todo o quarto. Essa brancura causou a sensação de estar no topo de um lugar muito alto, de onde dá para observar a cidade ou mesmo o mundo inteiro sem que nada de mal pudesse me atingir.
Quis não querer perder essa sensação, e por ter sido tão breve tentei continua-la por mais tempo o que me lembrou que semana passada durou menos tempo do que gostaria, mas o mês ainda não acabou. Mesmo que às vezes eu esqueça.
E ao inicio do novo ciclo pude enxergar que há paz em cada canto da casa e da vida.
Só pude perceber porque finalmente consegui me achar e ver que me interesso por outras coisas que não apenas as de antes. É importante que não esqueça, pois posso me perder de novo. Quase sempre me perco de novo.
O que quero dizer é que o passado pode ser um belo quadro para olhar em certas ocasiões, mas nunca, nunca para viver nele - desisti de viver nele.
E essa percepção despertou um sentido de liberdade – alma leve e corpo tranqüilo – bem como uma admiração pelo desconhecido, como sentir saudades por um filho que ainda sequer nasceu.

Não é que eu me perca para depois me encontrar, é que não consigo ficar “encontrado” por muito tempo. Talvez isso nem seja um defeito, é apenas o que é.
Sei que isso pode ser problema, pois vivo cercado por pessoas que tem motivos de sobra para reclamar de mim, mas nunca reclamam. Elas preferem dar uma segunda chance. E são elas quem me fazem me encontrar, assim como a luz no quarto também fez.

Nessas horas penso que esse pessoal tem parte com Deus, porque sempre penso nEle quando passo a pensar neles. Também porque sei que assim como aquela luz só poderia estar a iluminar a vida daquele modo que aconteceu, essas pessoas também iluminam minha vida desse modo: Deus quer que eu O veja todo dia, e para que eu entenda me fez ter família e amigos.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Como se fosse a última vez

(Imagem: Google)

A última vez que a vi foi ano passado. Toda vez que ouvia We Never Danced do Neil Young lembrava dela, e disse isso a ela. Ela perguntou quem era Neil Young.
Ainda lembro como chovia pra caramba aquele mês, tornando os dias mais longos.

E também era longa a distância, mesmo estando perto...
Falei que precisava ficar longe por um tempo. Ela procurou ver algo em tom de brincadeira em meus olhos. Não havia.
Atravessou a rua na chuva e me deixou do outro lado. Duvido que tenha olhado para trás, embora não tenha certeza porque não olhei também.
Aquela foi a última vez que a vi. E hoje a distância que nos separa é de algumas horas, minutos...
Mas ela não sabe me encontrar.
E eu não sei mais encontra-la, pois não consigo me encontrar também.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sobre a solidão em uma madrugada e lembranças do fim do período

(Cidade de Nova Yorque. Imagem: dispositivodevisibilidade.blogspot.com)

Tirando Belchior no violão até altas horas da noite percebo que minha cidade é como um cão faminto e quando o cão late não me deixa dormir. E eu nunca sei onde ele está nem se a causa da insônia – a do bicho-cidade e a minha - é a fome ou algo mais profundo. Agora mesmo os meus amigos estão a distância de um telefonema, ou da solidão mesmo, mas à essas horas... É tão tarde. A solidão então.

O dia começou com a maior cara de fim de mundo e foi embora numa paz que me incomodou. Como se fosse chover – e sempre chove. O céu limpo e claro agora a noite parece céu de verão (isso é ótimo!).

E tudo se deu inicio -a insônia ou algo mais profundo- quando lembrei-me de uma das aulas de quinta-feira, meu professor de mercadológica falava sobre as grandes idéias do Marketing, e dizia como era pouco provável alguém ter essas idéias bebendo apenas leite... Isso me deixou perdidamente agitado, pois era o que eu falava um tempo atrás sobre os grandes feitos da vida, mas deixei de crer nisso, e ele um senhor tão correto falar desse modo como se fosse algo distante a nossa realidade mal suspeitara que suas palavras faziam eco em seu aluno mais careta. Creio que fico assim porque não posso mais. Meu desejo agora é de “um dia de sol e um copo d’água” porque os caminhos longe disso são , as vezes, vazios. E o vazio é muito solitário.

Mas isso já é passado. Grande parte do que foi dito. Só a juventude continua à flor da pele, porém acho que o tempo se encarrega disso também.
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Tento isolar-me para encontrar a vida em si mesma. No entanto apoiei-me demais no jogo que distrai e consola e quando dele me afasto encontro-me bruscamente sem amparo.


No momento em que fecho a porta atrás de mim, instantaneamente me desprendo das coisas. Tudo o que foi distancia-se de mim, mergulhando surdamente nas minhas águas longínquas. Ouço-a, a queda. Alegre e plana espero por mim mesma, espero que lentamente me eleve e surja verdadeiramente diante de meus olhos.
Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desamparada, solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. (...)
Sem viver coisas eu não encontrarei a vida, pois? Mas , mesmo assim, na solitude branca e ilimitada onde caio, ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa, presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.


Clarice Lispector – Perto do coração Selvagem

Amanheceu enfim. Bom dia! Vou dormir.