quarta-feira, 25 de março de 2009

Nunca diga assim!

(Big Smile: João Marcelo Oliveira Machado)
Quando não nos contentamos com o que temos, passamos a desejar o que é do outro, a felicidade do outro a riqueza do outro. Eis o grande perigo.
E quando é tarde e todos estão indo embora, você sempre vem e me diz coisas melancólicas.

Nunca diga assim: Eu queria ter o seu sorriso!
Pois para ser assim um sorriso não nasce sendo um sorriso, ele é alguma coisa muito perigosa mergulhada numa profundeza, num abismo escuro onde há tristeza e incerteza, para só depois virar superação. E quando você me vê assim só pela superfície, não imagina a tormenta que é –uma luta colossal- para não deixar o abismo vencer.
Entenda: não acho que seria duro demais para você, mas se podemos escolher planícies e praias pacificas, abismos para quê?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Todo mundo foi criança II

(Imagem: conciliabule - Honey)

Quando éramos crianças, para por pra fora todo o açúcar que consumíamos o dia todo, brigávamos na hora do recreio no fundo da sala. Era assim: quem chorasse primeiro perdia – não era uma regra expressa, mas era um dos motivos que faziam a “brincadeira” acabar, ou então quando uma das meninas gritava: “ ah, tadinho!” daí todos paravam para olhar a menina e não o suposto coitado.
Então a professora vinha de seu intervalo fula da vida chamando agente de diabinhos e dizendo que adoecia por nossa causa – tadinha da professora, só agora com 21 anos percebo o que causávamos à ela. Espero que meu estado de desculpas compense tudo o que fizemos ela passar... Não, acho que só isso não compensa.
Eu nem era um guri agitado, só gostava de imitar o personagem de meu desenho favorito na época.
Foi numa dessas brigas que, em meio a toda violência infantil – livros voando, tapas e empurrões e meninas gritando – veio alguém em minha direção e eu pronto para um empurrão levei um chute no saco. Nossa! Como doeu! Nunca vou me esquecer, até porque não sabia que esse tipo de coisa doía tanto. E era tão forte (a dor) que nem conseguia chorar, sentei na cadeira calado e pensando em como o guri que me chutou devia saber como aquilo doía. Ninguém me contou nada. Estava pronto a descontar no primeiro que também tivesse um saco, mas nem me levantar conseguia. Aquilo era diferente, entre os meninos, de um empurrão pelas costas ou um soco no rosto. Aquilo era covardia pura!
Achei-me o cara mais fraco da escola e nunca mais brinquei de Live action na hora do recreio. Ao comentar com meu melhor amigo na época, ele disse algo assim; “mas dói mesmo, dá até vontade de chorar. É por isso que eu boto a mão na frente” – percebi que todos faziam isso, e nunca me contaram nada.
E foi por nunca terem me contado nada que, com 6, 7 anos descobri essa enorme fragilidade que havia em mim.

Depois disso passei a andar em outros grupos, “achei” outras pessoas na escola, pessoas bem interessantes também. Algumas fazem parte de minha vida até hoje.
E um pouco depois dessa época lembro ter descoberto as meninas não mais como pessoas a quem se deve puxar os cabelos e chamar de chatas.
Com aquela idade não sabia o que era, mas foi nessa época que, com toda a infantilidade possível (^^) eu quis saber o que era amor. Não que tivesse maturidade pra isso, talvez ainda não tenha. Mas isso é uma outra história, para além dos tempos de infância.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Sobre o mundo e as pedras que rolam

Fiquei surpreso essa semana ao abrir uma carta que recebi de amigos, "pra você" eles disseram. Li, e o que li me espantou, não pelo conteudo, mas pelo seu final. Era meu nome que estava escrito no lugar da assinatura. Embora eu conheça a letra de quem fez isso, não me importei tanto, entendi o significado. Acho que essa pessoa não vai se importar se eu publicar o que li no curto periodo e que não entendia direito.
Segue então a carta.
P.S.:Ei A. era melhor ter me dado um espelho!
"No primeiro período em que fui careta, tempo que durou da infância até o inicio da adolescência, via as meninas chapadas e as amava.
Os berros da Janis e do Kurt me fascinavam e ainda exercem certo fascínio sobre mim. Quando me tornei um deles me vi perdido. Ainda com a admiração e o amor cavei fundo o poço, dava pra sentir o hálito da morte.
Consegui sair, pensei que sairia ileso. Agora o que exerce fascínio sobre mim são as pessoas felizes, são as pessoas que eram como eu antes de a vida capotar e seguir em frente.

Minha coragem me levou até à beira da morte. Hoje prefiro ser um covarde aos olhos do mundo! – quero cegar os olhos do mundo! Por não conseguir vivia como quem escreve sob pseudônimos.
Quando era assim, o mundo se dividia entre a vida e as coisas que eram proibidas. Agora é a vida e as coisas que não posso mais tocar.

No segundo período de caretice - do fim da adolescência até esse exato momento - há um labirinto para todos os lados e um minotauro dentro. O equilíbrio dura até quando ele me encontra e me oferece o mundo de volta. Nessas horas é preciso coragem para evocar a covardia e recusar a oferta.
É preciso (re) aprender os caminhos, pois ele sempre volta com flores e armas nas mãos e tudo isso é só para beber meu sangue. Que ele fique com o mundo! Eu quero a vida, em cada palmo, em cada raio de luz.

O circo está armado de tal modo que tudo distrai, o que pode ser visto e o que não.
E quando olho para trás há flores, mas também há uma arma suja de sangue faminta por mais e mais e mais... O melhor jeito de se livrar de algo talvez seja nunca encostar nesse algo. Agora é tarde, minhas digitais estão por toda parte.

Porém, contra o abismo disfarçado de coragem (e de rota de fuga para a liberdade) eu ofereço mãos limpas e coração puro. Já tenho tudo o que preciso, e ele quer vitória? Eu entregaria de mãos beijadas apenas para ver ele se acordar e perceber que estava cego! -Talvez ele não acorde mais. E eu não posso mais dormir por tanto tempo.
Você quer vitória? Vamos ver quem é que vai vencer agora!"

quinta-feira, 5 de março de 2009

From here to forever

(Imagem: 32 Ana.Meideiros - olhares.com)

Respiração ofegante antes de apertar a campainha. Um sorriso forçado para disfarçar a tristeza.
Em algum lugar do planeta havia alguém exatamente feliz no mesmo momento em que eu sentia o oposto por um tempo. E já tinha procurado no mundo todo – via Google Search – o que se faz de melhor para forjar um homem forte nas horas em que é preciso não demonstrar fraqueza, mas foi em vão.

Ouvi passos em direção ao portão no mesmo momento em que as pessoas felizes do mundo sequer tinham noção de que aquele momento existiu.
Ao portão os semblantes se encontraram, mas foi só para causar sensação de nuvens carregadas no olhar – cummulus nimbus a ponto de tempestade.
E choveu quase que uma tarde inteira quando a voz que estava do outro lado falou sem dizer nada toda a verdade.
Pra onde ela foi? – Perguntei.
Nenhuma resposta.
Nós dois sabíamos. Quando não se vive pra sempre, a vida é sempre por muito pouco tempo mesmo.