segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Mundo de hoje de manhã

(Imagem: daqui)

Não consigo recordar quando tudo começou a mudar. A primeira lembrança foi de quando resolveram substituir empatia por outros termos. Mas não sei o que veio antes. Depois veio um turbilhão.
Já não era mais possível se colocar no lugar do outro apenas por ter sangue nas veias e algo no coração. Era preciso mais, o mesmo tom, o mesmo local de origem. Então percebemos que estávamos classificados em grupos e toda vez que tentávamos nos abraçar parecia que eramos um jogo de lindas bonecas Matrioscas, mas na verdade viramos cebolas descascadas até sobrar quase nada. Apenas o choro era verdade.

As nossas profundidades e vazios nos distanciam, mas não era assim há pouco tempo. Sempre fomos tão diferentes e isso nunca foi um problema. Depois da escola, nos fins de semana, ao ligar a TV. Nada disso nunca nos ocorreu. Chamar de inimigo e se afastar de alguém que abraçávamos todos os dias no intervalo de uma aula comum, num fim de dia comum, soa como se a humanidade tivesse sido abduzida. Não! Nós demos nossa própria humanidade de presente para alguém que sequer conhecemos. E agora obedecemos ordens e conselhos de um vulto distante.

O seu perfume ainda está em minhas roupas, todas as conversas, todos vocês.
Nunca nos perguntamos para que time torcíamos antes de decidir se era licito ligar ou se importar. Quem nos ensinou isso agora? Na porta da escola tudo parecia claro. Eramos nós e o mundo ao redor, nós ao redor do mundo onde agora crescem muros. Quem te ensinou que apenas quem já passou pelo que você passou pode chorar por você? Enquanto também me definho por sua dor, você deixa seus braços abertos para outros que te consolam. Outros que usam o seu lamento como um hino para os empreendimentos deles.

Nossa felicidade é a ruína da canção deles e eles nunca te dirão! Vamos voltar a cantar as nossas músicas! Você nunca se importou com a afinação. Eu sei, pois sou da mesma substância que você. Você e eu somos iguais. Iguais, iguais! Não vamos nos enganar com o sol dessa manhã. Certamente ainda não amanheceu verdadeiramente! Eu não quero mais atirar pedras e chamar isso de liberdade!

Vamos fechar os olhos e quando abrirmos não estaremos do meu ou seu lado do muro, ou do lado do muro que disseram que deveríamos estar. Vai ser dia e haverá canções que não dividam, que aceitem as nossas folhas como antes. Canções sólidas e cristalinas, que deixarão vermos novamente as nossas raízes. No "três" nós podemos começar? Você vem?

1.. 2.. 3!!!

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