quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

O sol sobre a pele

 

(Imagem: Acervo pessoal)

Hoje saí para filmar e fotografar a cidade. Deu na telha. Havia muito tempo que não fazia isso. Tinha duas horas para o banho, almoço e retorno ao expediente. O almoço ficou para o outro dia. Às horas que me caíram permitiram ver um fluxo após o rush que, tinha esquecido, me causa um certo conforto. O fluxo após os jovens e adultos já estarem em seus trabalhos e estudos. Apenas pessoas perdidas como eu no caminho. Os ônibus vazios. O sol sobre as nossas peles. É como estar na sala de casa.

Eu mirava para todos os lugares, pois queria ter aqueles pedaços dos locais em que o tempo passou pela cidade e fazia as pessoas alheias a mim parecerem vivas. Os outros estavam sustentando o mundo enquanto nós vagavamos naquela parte do tempo na cidade. A multidão no calçadão, o asfalto ensolarado e o rio brilhando quente, são a maior poesia que uma pessoa que acabou de sair de parte da lida diária poderia ter antes de chegar em casa. 

Alguns olhares insinuavam loucura ou falta de algo importante para fazer, mas eram julgamentos de ilusão. Ao meio dia, as noticias importantes do telejornal falavam em guerra nuclear, aquecimento global e destruição do planeta. O rio à minha frente me perguntava de forma retórica o que era que eu tinha a ver com aquilo tudo enquanto ele fazia pose para a lente. As baratas sobreviverão a tudo isso. Haverá vida na terra. E dela a humanidade se levantará outra vez. Não é isso que ensinam nas escolas? 

Hoje eu saí, filmei e fotografei a cidade num dia que não teremos igual pelos próximos breves anos, e ela estava linda. No fundo ela também sabe que as coisas importantes da vida não passam no jornal. 


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