segunda-feira, 31 de julho de 2023

Espera em canções


(Imagem: daqui)


Os seus pais se escondem no silêncio. Um mecanismo para evocar a sua procura que quase nunca dá certo. O silêncio é sempre palavra dúbia para quem vive no rush, no limiar entre o martelo e a parede. As palavras que desviam quase nunca são entendidas quando e como deveriam, seja para o bem ou para o mal. As palavras que desviam quase sempre são entendidas em sua plenitude muito tempo depois, quando o motivo já se evanesceu e a resposta já não terá sentido.  

Você pensa que pode haver algo errado contigo, que algo de muito grave foi feito e sua mente apagou criando um lapso para proteger seu consciente. Uma briga, uma palavra, as drogas o sexo... o silêncio nunca deixará saber. Seus velhos não se abalam com o que falam sobre você, sem perceber que a cartomante esqueceu de dizer que não prevê o futuro, mas profetiza esperando o alvo andar em caminhos sem luz para que o que ela disse possa se tornar real.

Você também luta em silêncio contra um adversário que surgiu por acidente. Um você que você não enxerga no espelho. Todos sabem e todos perceberam que ele também te refletia, mesmo sem você saber. Aquele Outro te libertou de todas essas coisas, por isso não há motivos para pensar mais a respeito. Nós também prevemos o futuro no silêncio. Porém nós, os filhos, não moramos nesse intervalo. 

Nenhum ser humano é fluente em silêncios. Não por muito tempo. Envolva-se com coisas que não solidifique pausas, e que as mantenham no lugar feito para elas estarem - que é sempre de passagem, sem lugar para repousar. O canto e as canções são o que devem encontrar abrigo em seus braços, nos corredores e cômodos dos lares em que vocês moram, nos céus em que vocês esperam morar. Nos céus que os aguardam em canções.


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