Parecia que esse novembro iria terminar em paz, como há certo tempo não viamos um mês terminar. Os vencidos e os vencedores não se enfrentavam mais, uma nevoa pacifica pairava por todo o ambiente, ou haviamos interpretado errado? Não, realmente viamos sorrisos pelos corredores. Algumas indiretas, não nego, essas nunca cessarão, mas tudo estava mais leve e até sentavamos juntos pelo fim da tarde.
Todo aquele processo de anular os outros, de classifircar, à lá Guestapo, as pessoas que não pensavam em conformidade com certos pensamentos e que não deveriam ser tratadas mais como pessoas, ou coisa parecida, deu uma leve pontada como uma dor de dente que ficou o dia inteiro sem se manifestar aparecendo dizendo: ainda estou aqui!
Falavamos de qualquer coisa e riamos alheios ao tempo, até você me perguntar se tomaria mais alguma dose da nova bebida que você tanto amava. Com o espirito envolto pelo clima da confraternização disse que não, pois já estava com o copo cheio. E você me falou que era preciso, pois o clima já estava mudando lá fora.
Mas depois de ter vivido todo o processo e os eventos de cerca de dois anos para cá, resolvi prestar atenção à contradição, ao invés de focar apenas nas palavras de bondade que duravam o tempo exato de uma vontade contrária se manifestar. Nunca vi um clima tão democrático - falei- que fecha caminhos e aprisiona quem só queria respirar, mas escancara portas e janelas quando precisa que essas mesmas pessoas presas apertem botões para que a roda do poder continue a girar a favor de quem tem as chaves da prisão.
Já sabia que isso seria o bastante. Olhares diziam que deveria ter ficado calado. E antes de poder questionar se ignorar isso não seria aceitar que estavam nos chamando de burros com o nosso consentimento, uma voz doce - nos ultimos anos as palavras mais violentas vem de lábios e vozes doces - falou sobre a minha condição naquele local e em como poucas palavras poderiam tirar tudo aquilo de mim.
Seu copo pode estar cheio, mas nele caberão quantas goles dessa bebida forem necessários - a doce voz. Não é escolha só sua - ela terminou convincente trazendo os olhares de todos em minha direção.
Antes de me levantar e ir embora deixando o copo cheio na mesa olhei para o céu para ver se a chuva que molhou nossa cidade hoje a tarde já havia passado. Sim é minha escolha - sorri. Sempre foi e sempre será.
Quase tudo, todos os dias, varia, mas parece que algo mudou no espirito humano para uma coisa não tão boa e veio para ficar. Já estava de costas na calcada quando ouvi um "vamos ver" ecoando como quando um soldado está cumprindo um dever redigido em mesas estranhas por mãos que nem sabem ou se importam com a existência de quem cumprirá as ordens.
Esperava o retorno desse comportamento tão hostil, como uma dor de dente, lá para o ano que vem. Junto com o canto dos vencedores. Sinceramente não tinha esperanças de que a trégua duraria tanto. Coisas e pessoas para anular e serem anuladas. Eu não quero mais uma dose do sentimento que embriagou a humanidade nesses últimos anos. Ele sempre se veste de algo novo.
Parece que a derrota não basta. Mas decidi que não será mais tempo de ser feliz às escondidas nem de permitir que transformem em cacos outras existências. É tempo de voltar ao front. Sóbrio dessa vez. Nem mais um gole! A vida é comoum jogo de "Verdade ou Consequência" sem saber, às vezes, que essas duas coisas nunca andarão separadas um só segundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário