Toda vez que o Natal se aproxima, uma leve melancolia toma conta de Dezembro a partir de sua segunda metade. Ela não me alcança de forma direta, mas abraça algumas pessoas queridas ao redor, me dobrando por um tempo. Fico feliz por esse sentimento estar sendo cada vez mais raro com o passar dos anos. Mas agora há também uma espécie de alívio por poder ser feliz sem culpa depois de ter aceitado a impossibilidade arbitrária nessas datas de não poder estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.
Como filho de pais separados, passava cada fim de ano com uma parte da família. Era tão normal quanto todas as famílias que passam o fim de ano de jeito que elas passam. Só as fotografias que ficavam me devendo mais gente. Eu gosto muito das cores, comidas, das conversas e da noite. Gosto também das luzes. Elas nunca foram amigas de meus olhos, mas de noite algumas são aceitáveis. Ninguém que se importa deveria passar datas como essas sem lembranças de momentos felizes.
Lembro de um Natal onde fiquei de me encontrar com parte de minha família na nova casa de amigos e acabei entrando em uma casa desconhecida por engano. As pessoas dali me receberam e conversaram comigo. Todos que me abraçavam achavam que alguém naquela casa me conhecia e me tratavam bem por respeito à ela, falando de coisas de suas vidas e de como estavam felizes por eu ser amigo dessa pessoa da casa que achavam que tinham me convidado para estar ali e que nunca existiu. Esse é um sentimento que dá segurança ao mundo, sustenta ele até aqui, certamente.
Acho que fiquei ali por tempo suficiente para me atrasar para a minha família, mas também entendi que aquelas pessoas também tinham outras pessoas que não podiam estar especificamente ali naquele dia. E que a felicidade delas naquele momento era uma forma de fazer todos os outros felizes, até os ausentes. Então uma coisa nesse sentimento me mudou para sempre, como quando nas músicas suaves é introduzida uma batida de bumbo a cada tempo no peito. E essa mudança foi a certeza de que, uma coisa é dobrar com um sentimento que você nem sabe o nome, mas suporta por fazer parte de todos, e outra é, daí em diante, sorrir com entendimento, por entender que isso faz parte de todos.
Se você não ficar olhando diretamente para as luzes, vai ver que o fim do ano é como as canções que tornam um momento mais leve enquanto são ouvidas, pois trouxeram um entendimento que só aquele período poderia trazer.
Sei que, mais uma vez, não estarei em mais de um lugar ao mesmo tempo este ano. Só que agora há uma canção leve no peito dizendo que está tudo bem. Que pode-se ser feliz com essa arbitrariedade de nossa incapacidade de onipresença nessas ocasiões.
Lembro que nos anos 90 o ano durava 365 dias, hoje ele passa em uma semana. Seja feliz. Não desperdice isso.
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