domingo, 21 de março de 2021

A cidade sob o céu - III Movimento


(Imagem: de um dia depois do trabalho)


Cumulonimbus ou Ar rarefeito ou Caos

Todo dia a noite apaga
A estrela que ilumina
E o vento levava as folhas
Que se enroscavam no portão
E furacões levavam bairros inteiros
Quando morávamos no mesmo quarteirão

E eu tinha de estar de leve bêbado
Para alcançar aquela felicidade
Mas nós nunca conseguíamos lembrar
E já é tempo de esquecer
Não quero ver a festa acabar
O que mesmo podemos mover?

Podia jurar que essa samba era um blues
Ah, eu podia jurar!
Mas não, não é. Não sei por que não é.

Vem ver uma coisa que meu pai tem na gaveta
Você ainda se assusta com essa imagem?
Ele me fez prometer que eu iria esquece-la
Quando voltasse a ficar triste

Ah, minha cara. Lá fora
Há tantos gritos e explosão
Aqui dentro é tão difícil. Confusão
E você chorava por uma estrela
E eu pelas constelações
Enquanto furacões levavam bairros inteiros
Os furacões levavam bairros inteiros!


domingo, 14 de março de 2021

A cidade sob o céu - II Movimento


(Imagem: de um dia depois do trabalho)


Stratu ou Asfalto Molhado

O céu atrás das nuvens
Asfalto molhado
Poças d'água nas calçadas
Posso te ouvir daqui
Ou a centenas de quilômetros
Ela está sugando a sua vida
Posso ver daqui
Ela sugando a sua vida

Ei, pegue uma guitarra
E grite bem forte!
Vamos nos trancar no quarto 
E cantar o mais alto que pudermos
Para bem longe daqui
Para centenas de quilômetros
Se parar a cidade matará você
É, ela matará você!

Então deixe o vento até quebrar o concreto
Mas não vamos parar com a canção
É amor enquanto o efeito não passa
Será amor até o efeito acabar
Se parar a cidade te matará
Se parar a cidade matará você
Isso é tudo o que ela sabe fazer
Isso é o melhor que ela pode fazer

Quando chove
O asfalto molhado cheira à margarina
Quando chove
Nossa cidade inunda, das portas às esquinas


domingo, 7 de março de 2021

A cidade sob o céu - I Movimento


(Imagem: de um dia depois do trabalho)


Cirrus ou Calçadas e jardins

Ombros em todas as direções
Olhos e olhares e as multidões
Vias em tons escuros, em caminhos que atravessamos
Vias invisíveis, fios de cabelo flutuando
Ruídos soando em lindas canções

Projéteis procurando abrigo
Num coração perdido
Paraísos e abismos
Pores do sol esquecidos
Firmamento derramado
E câmbio flutuando
Pra partir daqui tem que lutar

Há um rumo certo em outra direção
Na contramão das cópias de cópias
E dos homens anarquistas
E dos homens em Mercedes
E de todo o ódio da TV
E do "Ser ou não ser?"
Que agora é a razão

Um mergulho na multidão
Atravessamos as barreiras invisíveis
Na vida in flutuando

Que a chuva lave a cidade que eu amo
Que a chuva leve a cidade que eu amo
Que a chuva leve e lave o tanto quanto
Eu odeio a cidade que eu amo