Ou A metamorfose
Quando certa manhã Alisson Samsa despertou, depois de uma
noite mal dormida, achou-se em sua cama transformado em um monstruoso blogueiro.
De frente ao espelho o casco duro e as duas antenas longas o assustaram a ponto
de não querer sair de casa. De que forma seria recebido um ser que, embora no
fundo fosse humano, por fora provocava asco até para si mesmo? E seus pais? E
se eles pensassem que um ser de outro mundo houvesse devorado seu filho?
A dúvida durou pouco,
até lembrar que noite passada eles tinham partido. Cada um arrumou sua própria
família como os filhos fazem depois de crescidos. O jovem Samsa, então,
perguntava-se se tinha cumprido bem o seu papel de filho às avessas e havia
criado bem seus pais para o mundo que agora eles decidiram ter. A solidão era
insuportável.
Durante o dia o jovem asqueroso escrevia num bloco de papel
coisas que na verdade eram grandes pontos de interrogação e exclamação sobre o
que acabara de acontecer com ele e com o mundo há séculos e séculos... Essas
folhas eram soltas pela janela do quarto no período do dia em que as pessoas
passavam pela rua estreita e silenciosa.
O jovem Samsa tinha fome e esse era o único contato que ele
tinha com o mundo, o único que ele se permitia ter depois de perceber que sua
aparência provocava medo e nojo face a face com outras pessoas, foi então que
percebeu que sua enorme fome não saciada era mais bonita nas folhas de papel do
que na realidade. Na vida real aquilo era um incômodo aos outros.
Suas patas afiadas e sua boca com duas pontas não lhe
permitiam segurar nem comer nada convencional, e falar era impossível, para
escrever ele melava a ponta da extremidade de sua pata em tinta. Percebeu que a
noite, quando não dormida, também era um bom refúgio. No silêncio seu coração
cantava uma canção. - Se foi por escolha própria Alisson, Para quê te serviu
essa metamorfose?
Num tempo em que a maturidade estava em uma outra estação, o
casco do Jovem Samsa foi encontrado partido ao meio e seco em seu quarto ao
lado da janela. Uns diziam que ele tinha morrido há vários dias, mas outros –
os que tiveram contato com as folhas que alçavam vôo da janela – diziam que
não. Eles diziam que ele tinha ido atrás de sua família, refazer o lar de
verdade de novo.
A vida é mais bela depois que buscamos compreendê-la
perdoando e pedindo perdão sem desistir jamais. O resto são coisas pequenas.
Um comentário:
notei algumas metaforas, ficaram muito boas.
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