Como posso começar... Bem, o que quero dizer foge completamente aos princípios desse blog, que foi criado para falar sobre sentidos comuns ou percepções da vida urbana, mas – pra citar Drummond - Isso estava inundando minha vida inteira. E por hoje ter me sentido livre de tantos anos... (Talvez o que queira dizer seja “indizível”) Mas preciso dizer, então lá vai:
Os meus amigos e amigas e amores de inicio de adolescência, nós nos afastamos um pouco pelo rumo que a vida tomou.
Nos reunimos essa semana (todos juntos como nos velhos tempos!) como nos velhos tempos... Pense como o coração fica parecendo bateria de escola de samba essas horas! E era tudo outra vez: as bebidas, as musicas, as histórias. Se bem que eu já tinha parado com um monte de coisas.
Foi ai que aconteceu - como um Déjà vu às avessas. O tempo voltou e todo mundo tinha 16, 17 anos novamente. Havia uma chuva começando lá fora, fechamos as janelas e tocamos as musicas que pairavam na mente noite a dentro, por horas. Até que cada um foi pegando seu par (como naqueles tempos) e ela [vou chamar de X] veio em minha direção apenas com os olhos. E os olhos dela se perguntavam a que horas eu iria começar a implorar, antes ou depois de eu encher a cara? Mas eu já havia parado com uma porção de coisas. E a chuva batia no teto das casas como uma canção triste e era triste aquele momento. Ela, mais uma vez, fez o favor de deixar-me sentir o seu perfume dizendo que eu era a pessoa mais importante – e dizia isso como quando alguém sabe que possui algo garantido, e então deixa em standby indo viver sua vida, pois sabe que num estalar de dedos terá aos seus pés o que nunca é de ninguém para sempre.Nos reunimos essa semana (todos juntos como nos velhos tempos!) como nos velhos tempos... Pense como o coração fica parecendo bateria de escola de samba essas horas! E era tudo outra vez: as bebidas, as musicas, as histórias. Se bem que eu já tinha parado com um monte de coisas.
Nesse momento sai em direção à porta bem devagar a ponto de me assustar. Não tinha vindo aqui pra isso, eu queria me divertir entre amigos. Aonde eu iria nessa chuva? – me perguntavam. Só consegui fechar a porta atrás de mim porque as palavras sempre falham na hora errada, e nem adianta ter 20 anos de escola – elas simplesmente falham. Fui caminhando debaixo de chuva seguindo a bússola que há dentro de cada um de nós. Era interessante ver pequenos rios se formarem nas ruas, o vento uivar e toda aquela água cair. A cidade fica vazia quando chove de madrugada (eu já tinha esquecido) é assim na província onde vivo.
Mas o que não me fez cair de joelhos e dizer sim ao ouvir o que mais se espera durante tantos anos da pessoa que foi o motivo de vida? Não, não foi o fato de ter ficado uma eternidade em standby, mas o fato de haver, do outro lado da cidade uma guria que eu nem sabia que existia, e que me faz um bem danado, e que há algum tempo atrás nem tinha rosto – agora tem.
“Ei, otário!” – eu ouvi – eram três mendigos embaixo de uma marquise. “Tá tomando banho! Que otário!” – um gritou – será que ele viu o que aconteceu? Que eu não agi como homem ao tirar X dos meus braços – não, ele dizia aquilo pelo fato de eu estar na chuva, mas de certa forma ele também estava. “Ta tomando um banho, otário!” – não tive duvidas depois disso: aquele mendigo sabia de minha vida toda. Quatro anos tomando banho. Porém a chuva dessa madrugada na verdade estava me enxugando e me aquecendo. Guardei o desaforo para levar pra casa, iria enterrar na vala de desaforos que eu levava pra casa.
Continuava a caminhar em direção ao rosto que estava em meu coração agora, quando percebi ser quase duas da manhã. Parei no primeiro abrigo que encontrei e fiz uma ligação, pra falar a verdade não tinha o que dizer e falei qualquer coisa. Antes de perguntar se eu estava bem ela perguntou se eu sabia que horas eram. Disse que não. Ela falou: “Meu filho...” – disse que sabia, é, sabia. Tentava falar coisas que não as frases monossilábicas que saiam, ela interrompeu: “Ei!” (silêncio...). Era madrugada e o tempo já corria normalmente no presente, pois a pessoa que eu sabia que existia e que me faz um bem danado era outra que não a X, era quem estava do outro lado da linha com voz de sono: “amo você!”. E foi ai, então, que percebi que a vida da gente é de uma grandeza imensa, quando damos valor a ela.
7 comentários:
a intensidade com a qual você escreveu, tocou meu coração.
ótimo final de semana.
Cara, PARABÉNS!!!
Me emocionou de vdd... deve ser pq vivo um momento parecido!
soh que tipo, a X atual,tem o memso nome da X dos tempos de colegio... ÇÇ
Parabéns pela sua força. Você foi valente e soube valorizar o que tem. A vida é cheia de armadilhas; cabe a nós nos desviarmos delas.
Ótimo texto...
Bom fim de semana!
Adoro as fotografias do Olhares.com !
E tipo, seu texto ta muito tocante, emocionante de verdade.
nem sie o que comentar direito :(
fora p/ vc :*
Muito bom, cara. Isso realmente aconteceu com você? Abs.
Muito doce, muito particular e, apesar de e por isso mesmo, muito parecido com todos nós. Uma espera que não acaba, e que acaba sem que a gente perceba, pois tem um prazo de validade intrínseco... e um reinício com aquele cheirinho de carro novo, com um mundo inédito em technicolor. Lindo, sempre lindo. Beijocas e muito sucesso pra você, em todos os sentidos!
Parabéns pelo site mt bom conteúdo vou visitar mais :D
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