
Tirando Belchior no violão até altas horas da noite percebo que minha cidade é como um cão faminto e quando o cão late não me deixa dormir. E eu nunca sei onde ele está nem se a causa da insônia – a do bicho-cidade e a minha - é a fome ou algo mais profundo. Agora mesmo os meus amigos estão a distância de um telefonema, ou da solidão mesmo, mas à essas horas... É tão tarde. A solidão então.
O dia começou com a maior cara de fim de mundo e foi embora numa paz que me incomodou. Como se fosse chover – e sempre chove. O céu limpo e claro agora a noite parece céu de verão (isso é ótimo!).
E tudo se deu inicio -a insônia ou algo mais profundo- quando lembrei-me de uma das aulas de quinta-feira, meu professor de mercadológica falava sobre as grandes idéias do Marketing, e dizia como era pouco provável alguém ter essas idéias bebendo apenas leite... Isso me deixou perdidamente agitado, pois era o que eu falava um tempo atrás sobre os grandes feitos da vida, mas deixei de crer nisso, e ele um senhor tão correto falar desse modo como se fosse algo distante a nossa realidade mal suspeitara que suas palavras faziam eco em seu aluno mais careta. Creio que fico assim porque não posso mais. Meu desejo agora é de “um dia de sol e um copo d’água” porque os caminhos longe disso são , as vezes, vazios. E o vazio é muito solitário.
Mas isso já é passado. Grande parte do que foi dito. Só a juventude continua à flor da pele, porém acho que o tempo se encarrega disso também.
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Tento isolar-me para encontrar a vida em si mesma. No entanto apoiei-me demais no jogo que distrai e consola e quando dele me afasto encontro-me bruscamente sem amparo.
No momento em que fecho a porta atrás de mim, instantaneamente me desprendo das coisas. Tudo o que foi distancia-se de mim, mergulhando surdamente nas minhas águas longínquas. Ouço-a, a queda. Alegre e plana espero por mim mesma, espero que lentamente me eleve e surja verdadeiramente diante de meus olhos.
Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desamparada, solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. (...)
Sem viver coisas eu não encontrarei a vida, pois? Mas , mesmo assim, na solitude branca e ilimitada onde caio, ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa, presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.
Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desamparada, solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. (...)
Sem viver coisas eu não encontrarei a vida, pois? Mas , mesmo assim, na solitude branca e ilimitada onde caio, ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa, presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.
Clarice Lispector – Perto do coração Selvagem
Amanheceu enfim. Bom dia! Vou dormir.
9 comentários:
nem sempre queremos tanto da vida...as vezes queremos muito, ás vezes TUDO.
realidade. creio que não sabemos o que é isso, num tom mais profundo e real do que nossas vidas atuais.
o valor das coisas mudam, as vezes tão rápidamente que ganham e perdem valor numa velocidade em um numero de vezes absurdos.
mas a vida é assim, constante mudança. se deixarmos repetir as coisas, pode ser chato, porém, se mudar demais perde o foco.
Apenas reflexões e idéias passageiras, como tudo na vida...
Abraços.
Madrugada é mesmo algo místico. Parece que nessa hora do dia, todas as emoções de afloram ainda mais, as nossas angústias, nossas preocupações, nossos amores e saudades. As vontades de alguém, as tristezas da distância. E, quando isto ocorre, a insônia vem junto, impedindo que pensemos em outras coisas...
Ai como seria bom se pudéssemos desligar o pensamento por completo...
http://farmaco-fobia.blogspot.com
otimo texto, voce e bom em escrever, pelo que vi.
oi sou do açaí com Limão
e voce foi comentar, gostei do comentario, mas nao entendi o final:
"e quanto á pesquisa,"
gostaria que voce postasse o resto, é sempre bom a opniao dos leitores =D
Açaí com Limão
www.gafescia.blogspot.com
A madrugada insone, sinônimo
De quereres não realizados.
E o sonho não vem
Pois estamos acordados...
Ei realidade, pelo menos não grite com a gente.
Seria bom poder dormir, e acordar, e ver a beleza de tudo.
Querer tudo e entender nada.
Quem está acordado me parece estar mais alerta, mas ao mesmo tempo, aqueles que dormem NÃO me parecem mais serenos.
Viva, Viva!!!
Se não dormir, escreva!
Amei.
beijo
É meu caro há dias que o a alma vira invólocro da carne, fica tudo invertido e incontido, e faz valer a frase da Clamille Clodel :" há sempre uma ausência que me atormenta"
Linda a foto! parabens pelo blog!
bjss
www.culturainutil.com.br
A clarice é de mais, parabéns pelo blog!
http://gruposaberviver.blogspot.com/
Clarice é demais, não?
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