(imagem: daqui)
As orbitas dos planetas e as contas de inicio de mês, no papel são tão tranquilas, mas ao encararmos elas por um tempo, parece que não entendemos de verdade o equilíbrio que as sustentam. Uma sensação de que uma onda maior que a que molha nossos pés está escondida atrás de um raio de sol, atrás da beleza que nos encanta e que nos cega para ondas como essas. Que vem de onde menos esperamos quando ignoramos a areia ou olhamos para o horizonte apenas.
Não viver alerta tem um preço a pagar, principalmente quando não se sabe nadar. Mas eu não entendo de ondas, de contas de inicio e fim do mês e nem de planetas. Não estou pensando a esse respeito, pois o que escrevo não é sobre isso. É sobre algo que parece que vai emergir e te tirar o sossego, e não adianta vigiar todos os lados, todos os outros, pois também emerge dentro de você. Você também é seu desassossego.
Hoje a noite uma lembrança me tirou o sono e eu não a tenho completa. Ela é bonita numa parte, mas em outra parte é guerra, pois não a tenho por completa. Ela fica por um fio toda vez que vai se apresentar a mim em toda a sua beleza. Então olho para o outro lado, onde posso ver seu vulto, mas o vulto não é a coisa em si. Ouço os risos e o choro. Riso e choro incompletos.
É nesse momento que percebo o fio delicado que sustenta nossa calmaria. E percebo como é preciso tece-lo dia após dia. As teias que sustentam as lembranças também nos impedem de sermos levados numa ventania, mas só se estivermos alertas. Se estivermos olhando o horizonte e o chão sob nossos pés. O horizonte e chão que nos revela que somos cada um um fio equilibrando universos, mesmo em pedaços ou incompletos.