terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Cosmopolita


(Imagem: We 52 It!)

Ele mente toda vez que quer fugir, desde que não machucasse ninguém estaria tudo bem. Tudo é por pouco tempo.

Não deixe ressentimentos para trás cosmopolita, isso pode ser doloroso quando não conseguir mais encontrar seus desafetos ainda que os procure. As pessoas, elas sempre se vão, todo o tempo. E o mundo é tão pequeno, é tão óbvio perceber.

Adiando tudo o que importa para fazer o planeta girar, até quando adiará o encontro mais importante? Você pensa que a fé já não é mais necessária em meio a tanto progresso e pessoas capazes de tudo realizarem. Encontre um abrigo para sua solidão. Dê um passo para fora e respire enquanto observa que viver é dar importância a coisas como jogar conversa fora numa tarde qualquer. Mesmo que você saiba que existe o infinito para desbravar, o tempo que te resta lhe permitiria chegar quantos metros abaixo da superfície?

O sol e as estrelas se refazem a cada dia, mas você não consegue notar coisas tão pequenas, apenas distrações. Seus filhos já não são os mesmos de poucos minutos atrás e todo adeus é doloroso para quem não pode perceber. Não reclame por não ter nada do que queria, há coisas mais valiosas do que realizar os desejos de um coração egoísta. Para quem são as flores nos jardins se não para você? As arvores e os pássaros nos confins do mundo também.

Você é jovem e há beleza em tantas coisas. Em todos os lugares existe o belo. Você sente que pertence a algum deles? Todas as pessoas que você jamais verá novamente poderiam ser algo mais que lembranças em sua vida. Você passa por tudo e alegra corações. Algum lugar lhe pertence? O céu e o mar até os confins da terra seriam seus, todos seus, se você soubesse esperar. Você já tem tudo o que precisa cosmopolita, pilhar o mundo inteiro não adiantaria nada ainda se fosse possível levá-lo para casa.

Você foi tão longe, e é bem sucedido além da média. As flores e o canto das aves no caminho te dão sensações de estar no lar. Todas as coisas belas que existem estão ai para te fazer sentir em casa e tudo será seu para sempre cosmopolita, desde que não caia na armadilha de querer tomar posse do que sustenta a felicidade escondida nos quintais de cada um.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Provinciano


(Imagem: We 52 It!)

Ele pede desculpas freqüentemente e vai dormir com pensamentos no mundo das pessoas lá fora imaginando como seria a vida longe daquilo tudo.

Qualquer mudança e toda a rotina são percebidas por você provinciano, você não teria chances no mundo lá fora, o seu coração está bem arraigado a terra. Isso te salvou da perdição. O mundo é demasiado grande, o mundo e as pessoas longe de seu circulo são complexos de se entender. Viver é mergulhar num oceano, se aprofundar e perceber que no fim não haverá tempo de ir mais fundo, às vezes, também não é possível voltar.

Você sempre sabe quando vai chover e o tempo exato das estações, mesmo num planeta tão desequilibrado. Por perceber coisas tão grandiosas acaba perdendo o compasso do mundo e dançando fora do ritmo, mas no tempo certo de seu coração.

As pessoas te acham tão bobo quando te vêem cultivando jardins ao invés de plantar edifícios em uma grande capital. Você percebe que tudo é seu até os confins da terra e divide essas coisas com os outros, mesmo os mais egoístas. Seu coração tão grande te faz perder os braços e pernas. Ah, você entenderia se tivesse visto o que vi!

O mundo é tão grande, provinciano! Se você pudesse entender a saudade que tem do que nunca esteve com você... Ela é o sentimento que leva as pessoas para longe de casa, indo encontrar do outro lado da vida o que sempre esteve em seus quintais.

Você é bem sucedido além da média, sua capacidade em saber perdoar não tem preço. Esse é o ouro mais valioso que o mundo contém. Só os loucos perdem a chance de tamanha riqueza. Só os loucos ignoram os tesouros que existem em seus quintais.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

... Nº 07

Ou A metamorfose




Quando certa manhã Alisson Samsa despertou, depois de uma noite mal dormida, achou-se em sua cama transformado em um monstruoso blogueiro. De frente ao espelho o casco duro e as duas antenas longas o assustaram a ponto de não querer sair de casa. De que forma seria recebido um ser que, embora no fundo fosse humano, por fora provocava asco até para si mesmo? E seus pais? E se eles pensassem que um ser de outro mundo houvesse devorado seu filho?

 A dúvida durou pouco, até lembrar que noite passada eles tinham partido. Cada um arrumou sua própria família como os filhos fazem depois de crescidos. O jovem Samsa, então, perguntava-se se tinha cumprido bem o seu papel de filho às avessas e havia criado bem seus pais para o mundo que agora eles decidiram ter. A solidão era insuportável.

Durante o dia o jovem asqueroso escrevia num bloco de papel coisas que na verdade eram grandes pontos de interrogação e exclamação sobre o que acabara de acontecer com ele e com o mundo há séculos e séculos... Essas folhas eram soltas pela janela do quarto no período do dia em que as pessoas passavam pela rua estreita e silenciosa.

O jovem Samsa tinha fome e esse era o único contato que ele tinha com o mundo, o único que ele se permitia ter depois de perceber que sua aparência provocava medo e nojo face a face com outras pessoas, foi então que percebeu que sua enorme fome não saciada era mais bonita nas folhas de papel do que na realidade. Na vida real aquilo era um incômodo aos outros.

Suas patas afiadas e sua boca com duas pontas não lhe permitiam segurar nem comer nada convencional, e falar era impossível, para escrever ele melava a ponta da extremidade de sua pata em tinta. Percebeu que a noite, quando não dormida, também era um bom refúgio. No silêncio seu coração cantava uma canção. - Se foi por escolha própria Alisson, Para quê te serviu essa metamorfose?

Num tempo em que a maturidade estava em uma outra estação, o casco do Jovem Samsa foi encontrado partido ao meio e seco em seu quarto ao lado da janela. Uns diziam que ele tinha morrido há vários dias, mas outros – os que tiveram contato com as folhas que alçavam vôo da janela – diziam que não. Eles diziam que ele tinha ido atrás de sua família, refazer o lar de verdade de novo. 
A vida é mais bela depois que buscamos compreendê-la perdoando e pedindo perdão sem desistir jamais. O resto são coisas pequenas.