sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Depois que a chuva passou

(imagem: e os ramos outros ramos- Peter M. - olhares.com)


Meia luz no quarto, barulho de água caindo, sons de guitarra dentro de meu quarto e na casa da vizinha. Essa noite havia chovido uma dessas chuvas que deixa a cidade com cheiro de asfalto molhado (E depois que acabou de chover ainda chovia embaixo das árvores toda vez que o vento soprava). Estava, e estou muito contente por ter recebido resposta a algumas perguntas que fiz a Deus semana passada - Por qual razão Ele nos pede para não desistir mesmo quando o seguir em frente seja de uma dor tamanha que deixa até a alma aflita? Ah, lembrei, é que Ele promete sempre estar conosco.

Então... Quando estava no quarto, no som da casa da vizinha, que imagino ser uma pessoa bem interessante, estava soando acordes familiares de alguns anos atrás. Tinha acabado de tomar café quando fui ao quarto e sentei na cama para prestar atenção àquelas canções e me surpreendi com uma vontade enorme de vomitar. Ia explodir, sabia. Porém, me surpreendi novamente ao perceber o motivo do meu enjôo (que frescura homem ficar enjoado!) era tudo por causa das canções de minha primeira juventude que não lembravam apenas dias ensolarados e gente sorrindo.

No tempo em que tudo era permitido visitava abismos colossais, tão fundos que pareciam nunca ter fim, havia sempre o cheiro da morte impregnado – como o cheiro do asfalto de uma cidade inunda o ar depois que chove. Não sei por qual razão, mas depois que voltava de uma dessas lembranças ficava com a impressão de que nem mesmo o inferno poderia ser pior que aquilo – então me lembrei de uma das respostas que foram concedidas para mim hoje. Havia esperado longos cinco dias só para perceber que as coisas do alto têm seu tempo exato, ainda não me acostumei. “Nunca volte atrás” – lembrei.

“Nunca volte atrás” foi a resposta que recebi para determinadas situações em minha vida. E mais uma vez fiquei surpreso sentado na beira da cama ao por um CD para não ouvir as canções que me faziam feliz nos tempos de abismo. Nunca pensaria isso, nunca! Quando essa mudança veio ocorrer?

Eram dois sons, o de lá trazia tudo o que já conhecia e que sei que pode agradar o coração e a mente por falar de coisas em que acreditamos quando não podemos enxergar. O som que vinha de dentro do meu quarto era algo que não atrairia muito quem não podia enxergar. Aquilo não me atraía antes... Mas aquele som veio direto ao peito, suave, como um rio que corre para a alma acalmando tudo. Aos poucos a paz foi voltando e eu já conseguia fazer outras coisas que não tentar não vomitar.

É porque o que Deus cultiva não pode ser ceifado por nenhum outro, e não adianta achar que o mundo é nosso e que sob o nosso cuidado a vida estará segura. Nas mãos dEle é tudo muito mais seguro. Nos tempos de angústia há alguém com quem podemos contar. Surpreendo-me com isso, por ter buscado solução durante muito tempo sozinho e não ter conseguido enxergar nada.

“Quando acordamos e não cabemos mais nas roupas que cabíamos podemos andar nus ou apertados por ai, mas também podemos comprar roupas novas e limpas. É sempre uma questão de escolha”. Limpo é como estou nesses dois últimos anos! Obrigado Deus!

P.S: Esse texto está no blog desde 2009, mas só tive coragem de publicar hoje...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Como uma estrela qualquer lá do fundo do mar

Na solidão da casa pratos e talheres sobre a pia, portas e janelas fechadas, livros em cima da mesa. A solidão espera alguém chegar para pôr tudo em ordem.

Na rua, ele - que tem a força para mudar o mundo, mas não sabe – andou fugindo por uns tempos até dar de cara com as chaves do portão em todas as esquinas. É hora de voltar, prender a respiração e girar a maçaneta – sempre dói menos se você pensar que terá fim um dia – todas essas perdas no início da vida... É como ficar tonto.

Se ele sabe que terão uma vida juntos e continuar desperdiçando oportunidades, isso seria não amá-la? Se for sem querer, talvez não. (Talvez a opção “sem querer” não exista de verdade). Talvez ela não ligue, talvez esteja dando chance após chance...

Quando os sinos batem, as promessas voltam com o calor do verão ou de qualquer outra coisa e com as badaladas dos sinos. A lembrança da promessa está em todos os lugares, gravadas nas arvores da praça, no cheiro das pessoas na praça – ele só precisa cuidado para não ficar tonto.

Na última noite, só o vento e o muro da vizinha repararam quando ele prendeu a respiração de novo para girar a maçaneta da porta, porém estava latente – está latente para qualquer um ver – ele precisa de mais uma chance dessa vez.


Last Night, in my dreams, she said (she said for me)

“If you love me, love me as you are. Do it as you are, and don’t you turn back again”